Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
Mateus 16:18
O Início da Construção da Necrópole Vaticana
A história da Necrópole Vaticana tem início antes do século IV a.c. A colina do Vaticano está localizada às margens do rio Tibre do lado etrusco, em uma zona que estava longe da cidade de Roma durante a era imperial. Aqui estava o vasto Jardim de Calígula, no qual construiu um circo. Ao cruzar o Tibre na ponte Elio, já estava fora do pomerium – uma área urbana onde qualquer tipo de sepultamento era proibido por lei – ao longo da estrada principal, a oeste da via Cornélia-Aurélia, havia fileiras de tumbas alinhadas.
Durante o reinado de Nero, o Circo do Vaticano foi usado como local para a execução das primeiras cristãs.
Tradicionalmente, acredita-se que após o incêndio devastador de 64 d.c, o apóstolo Pedro foi pregado na cruz de cabeça para baixo – pois achava que não era digno de morrer igual a Jesus Cristo -, sendo assim, algumas pessoas acreditam que o corpo de Pedro também foi enterrado na Via Cornélia em uma capela pequena e simples entre tumbas imperceptíveis e túmulos importantes decorados com mosaicos.
Centenas de outras tumbas foram empilhadas ao redor da de São Pedro. Até que, em 319, o primeiro imperador Constantino começou a construir a catedral, o cemitério ainda em uso não foi destruído, mas coberto por terras de até 7 metros de altura do templo do Vaticano: uma enorme quantidade de solo e materiais de aterro foram despejados no columbário. Com o tempo, a memória desta enorme cidade dos mortos foi desaparecendo gradualmente. Os trabalhos de escavação para descobrir este gigante complexo já dura 70 anos, isto é, desde que o Papa Pio XII planejou trabalhar com o padre Fabbrica entre 1440 e 1449.
As escavações não eram muito complexas e permitiu revelar uma exorbitante quantidade de túmulos praticamente conservados. Na realidade, Constantino pode ter protegido o cemitério onde São Pedro foi enterrado. Em vez de demolir essas estruturas ou usá-las como a fundação de sua catedral, Constantino construiu um grande pilar conectado por arcos. A base foi passada sem danificar a tumba – mesmo que em alguns casos os tetos tenham sido removidos e tudo preenchido de terra-. Vale ressaltar que, de Augusto a Constantino, o cemitério foi utilizado por mais de 350 anos, além disso, muitos túmulos foram originalmente compostos por pessoas pagãs e usados por cristãs, para então só depois transformar-se em um cemitério para religiosas.
Túmulo de São Pedro: Como é Visitar a Necrópole Vaticana
Área A
É onde a tour da necrópole começa. Esse mausoléu, datado do século II, pertenceu a uma pessoa chamada G. Pompilius Heracla. A existência do circo naquela área do Vaticano pode ser comprovada pelo quadro de mármore colocado na entrada da tumba com os dizeres:
Nas mãos dos deuses, Caius Popilius Heracla saúda seus herdeiros. A vocês, meus herdeiros, eu peço, ordeno e dou um mandato, em nome de sua fé, para erigir para mim um monumento no Vaticano, perto do circo , perto do monumento a Ulpius Narcissus, no valor de seis mil sestércios. Para a construçãoo do túmulo, Novia Trophime receberá três mil sestércios e três mil sestércios irão para seu co-herdeiro.
E eu quero que meus restos mortais sejam colocados lá e os de minha esposa, Fadia Maxima, sem que nada de ruim acontecesse com ela. Deixo os direitos relativos a este sepulcro para meus libertos e para aqueles que, por vontade, terão sido libertos, ou melhor, aqueles que eu liberei.
E, novamente, deixo esses direitos para Novia Trophime, seus libertos e descendentes das anteriores e estabeleço que ela tem o direito de ir, entrar e visitar o túmulo para realizar os ritos fúnebres.
Área B
Existem dois quartos chamados B e B1. O mausoléu é dedicado a Fannia Redempta, esposa de Aurelio Hermes, um escravo liberto. As imagens da tumba mostram que Fannia e sua família eram da religião romana tradicional. O túmulo é decorado e o teto abobado possui uma pintura de Helios em uma carruagem e figuras representando as quatro estações. O corpo de Fannia permanece no caixão de terracota na parede leste. No outro quarto, existe uma série de nichos usados para armazenar urnas com cinzas pós-cremação, indicando que houveram sepultamentos pagãos.
Área C
A tumba de L. Tullius Zethus é uma das mais decoradas. Na entrada há um portal com um arquivo cunhado, acima do qual está um nicho retangular com molduras primorosamente entalhadas, e parte do chão é adornado com mosaico preto e branco.
Área D
A câmara está vazia e existem vários nichos na parede, um muro bloqueia sua entrada.
Área E
A tumba pertenceu a T. Aelius Tyrannus, libertado, ocupou com sucesso um cargo público administrativo, na província romana em Belga de Gália. Podemos observar uma escada, ela servia como passagem para a família do falecido levar oferendas que eram deixadas em buracos pelo chão.
Área F
O mausoléu da família Caetteni, foi o primeiro a ser descoberto no ano de 1939. A tumba é pagã, mas com um toque cristão – uma pintura de uma mulher retirando água do poço, duas pombas, um ramo de oliveira e a seguinte frase ”dormit in pace”-. A mulher mencionada no altar se chama Emília Gorgonia.
Área G
A tumba do professor é representada por uma pintura na parede onde retrata um idoso com um pergaminho de frente para um jovem. Provavelmente o desenho simboliza um administrador e um servo, embora as primeiras pessoas que viram o túmulo pensaram se tratar de um mestre e seu aluno.
Área H
É o sepulcro mais luxuoso de todos e pertenceu a Valerius Philumenus e Valeria Galatia.
Área I
É conhecida como a tumba da carruagem, o local foi um dos últimos a ser explorado, A figura no chão representa o sequestro de Perséfone por Plutão.
Área L
Cinerário em nichos reaproveitados.
Área M
Esta área abriga túmulos de origem mista, com elementos pagãos e cristãos, incluindo o “Cristo Sol”, uma representação de Cristo em um carro puxado por cavalos, similar à iconografia do deus Sol pagão, Hélio. A tumba combina símbolos como o mito de Jonas e a baleia, que representam a morte e ressurreição, com decorações associadas a tradições pagãs como as vinhas dionisíacas, sugerindo um local pagão posteriormente cristianizado.
Área N
Está localizada a tumba de Aebutius, também conhecida como “Clodius Romanus“, contém uma urna com importantes símbolos funerários, como uma lâmpada em forma de cisne e recipientes de perfume, indicando práticas funerárias antigas. Aebutius morreu jovem, aos 21 anos, e sua mãe o homenageou com o epitáfio “o mais gentil dos filhos”. Dentro da tumba foi encontrada uma moeda de prata do início do século II, sugerindo que o local foi utilizado para sepultamentos antes do tempo do imperador Trajano.
Área O
Apresenta um pequeno espaço aberto com treliças nas paredes e uma escada que foi deslocada para outro local. O interior do túmulo contém nichos funerários reaproveitados e suas paredes são decoradas de maneira simples.
Área P
Também conhecida como campo p, esta zona faz fronteira com as tumbas S e O, a oeste é coberta pela parede vermelha. É nessa parede que supostamente os ossos do apóstolo estava em um pequeno buraco e é dela que saiu um pedacinho de uma inscrição em letras gregas ”petr(us) eni” que significa Pedro está aqui. Posteriormente, após a continuação da escavação, muitos fragmentos ósseos foram encontrados.
A análise antropológica mostrou que esses fragmentos pertenciam a um homem robusto, com aproximadamente 60 anos. Essas e outras pistas levam as pessoas a acreditarem que elas identificaram os restos mortais de São Pedro. Outra evidência seria, por exemplo, a existência de algumas moedas medievais que as peregrinas deixavam como oferenda no templo.
O troféu de Gaio marca o túmulo do apóstolo e está localizado exatamente embaixo do altar-mor, nesse local foram achados ossos encobertos em um tecido costurado com fios de ouro.
Área Q
Localizado a oeste da parede vermelha, as áreas R e Q provavelmente fazem parte de um mesmo setor cronológico.
Área R
É dividida em R e R1. São ocupadas pela parede da edificação do dossel de Bernini e sarcófagos colocados durante a construção da basílica de Constantino.
Área S
Esta tumba é ocupada principalmente pela fundação do dossel de Bernini.
Área T
Há um cinerário que cita Trebellenae Flaccilae Valeria Taecina Matri dulcissimae fecit, a urna do falecido data certamente de 317, e isso foi determinado graças às moedas guardadas no depósito do cinerário.
Área U
Mesmo com sua passagem comprometida por uma falha na estrutura, ainda é possível visualizar alguns nichos.
Área V
Esta área não é possível ser observada.
Área Θ
Originalmente conhecida como o sepulcro dei Marcii, contém apenas vestígios visíveis devido à deterioração ao longo do tempo. Restam dois nichos funerários e alguns mosaicos que ainda podem ser observados, revelando fragmentos da decoração original desse antigo túmulo familiar.
Área X
Assim como a área U, este local tem sua passagem comprometida.
Área Z
Construída no final do século II, é conhecida por abrigar algumas pinturas que retratam figuras de inspiração egípcia. Embora o sepulcro tenha sofrido com a passagem do tempo, esses detalhes artísticos preservados oferecem uma visão sobre o estilo decorativo e as práticas funerárias daquele período.
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