O Forte de São Marcelo, em Salvador, foi inspirado no Castelo de Sant’Angelo, na Itália, especialmente em sua forma circular, adaptando essa concepção para a defesa da cidade durante o período colonial.
Antes da construção do Forte de São Marcelo, o local onde ele foi edificado em Salvador era um banco de arrecifes localizado no meio da Baía de Todos os Santos.
Projetado pelo arquiteto italiano Leonardo Torriani, a ideia da construção do Forte foi do rei de Portugal, D. João IV. Sua edificação partiu da necessidade estratégica de fortalecer as defesas da cidade de Salvador, que era a capital do Brasil e um dos portos mais importantes da colônia portuguesa. O forte foi projetado para ser uma fortificação militar destinada a proteger a entrada da Baía de Todos os Santos, onde estava localizado o principal porto da cidade, contra invasões e ataques de piratas, corsários e potências estrangeiras, principalmente holandeses.
Construção
A primeira etapa crucial foi a criação de uma base sólida sobre o banco de arrecifes. Como o terreno não era firme, houve a necessidade de construir uma plataforma artificial, usando pedras, madeiras e outros materiais que estabilizassem a estrutura. Este foi um desafio significativo, pois as técnicas da época eram limitadas, e era necessário garantir que o forte resistisse tanto ao movimento das marés quanto a possíveis ataques.
Depois da criação dessa base sólida, o forte começou a ser erguido em sua característica forma circular, um projeto engenhoso que visava distribuir o peso de maneira uniforme e permitir uma defesa eficiente em todas as direções. A forma circular também era menos vulnerável aos disparos de canhões inimigos, uma vez que eliminava ângulos cegos e facilitava a movimentação de artilharia no topo da estrutura.
Internamente, o forte foi projetado para abrigar uma guarnição militar de tamanho considerável, com alojamentos, celas, capela, depósitos de munição e suprimentos, bem como uma cisterna para garantir o abastecimento de água. As casamatas, localizadas no nível inferior, eram espaços protegidos onde os canhões ficavam posicionados, prontos para defender o porto e a cidade de Salvador.
Batalhas
Invasão Holandesa 1624 – 1625
O primeiro grande evento em que o Forte de São Marcelo esteve envolvido foi durante a invasão holandesa de Salvador em 1624. Quando uma força comandada pelo almirante holandês Jacob Willekens tomou Salvador, o forte.
Após um ano de ocupação holandesa, uma poderosa armada luso-espanhola chegou em 1625 para retomar a cidade, no que ficou conhecido como a Jornada dos Vassalos.
Nessa época, os holandeses já controlavam o Nordeste brasileiro, especialmente Pernambuco, e almejavam expandir suas conquistas, incluindo a cidade de Salvador, capital do Brasil colonial. Em 1638, Nassau empreendeu uma campanha militar contra Salvador.
Campanha de Nassau contra Salvador em 1638
Ele liderou uma campanha militar contra Salvador, na tentativa de capturar a capital colonial. Durante o ataque, as defesas da cidade foram postas à prova, e o Forte de São Marcelo, já mais fortalecido, desempenhou um papel na resistência. No entanto, os holandeses não conseguiram tomar Salvador, e a fortificação ajudou a repelir a investida.
Revolta dos Malês (1835)
A Revolta Sabinada foi um movimento separatista ocorrido entre 1837 e 1838 na Bahia. Liderada por Francisco Sabino, a revolta tinha como objetivo proclamar uma república temporária até que o imperador Dom Pedro II atingisse a maioridade. Durante a rebelião, o Forte de São Marcelo foi novamente usado como ponto estratégico de defesa para as forças imperiais. O forte foi atacado pelos revoltosos, mas conseguiu resistir e permaneceu sob controle do governo imperial.
Revolta da Armada (1893-1894)
A Revolta da Armada foi um levante da marinha brasileira contra o governo do presidente Floriano Peixoto, que ocorreu principalmente no Rio de Janeiro, mas teve repercussões em Salvador. Durante essa revolta, o Forte de São Marcelo foi guarnecido e esteve preparado para possíveis confrontos, já que Salvador era uma das cidades visadas pelos revoltosos. No entanto, não houve batalhas significativas no local, e o forte serviu mais como ponto de dissuasão durante esse conflito.
Perda de Função Militar (Século XIX e XX)
Com o fim das grandes revoltas internas e a consolidação do Brasil como uma nação independente no século XIX, o Forte de São Marcelo foi progressivamente desativado como estrutura militar de defesa ativa.
Durante boa parte do século XX, o Forte de São Marcelo caiu em certo grau de abandono. A sua importância histórica, porém, foi reconhecida ao longo do tempo, levando o governo brasileiro a classificá-lo como patrimônio histórico.
Em 1938, o forte foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Mesmo assim, o estado de conservação do forte variou, e ele chegou a ficar deteriorado em certos períodos, especialmente devido à sua exposição ao ambiente marítimo.
Curiosidade
O Forte de São Marcelo, além de ser conhecido como Forte do Mar, também é chamado de Forte de Nossa Senhora do Pópulo. Este nome tem origem na devoção religiosa bastante comum no período colonial, quando era prática habitual associar fortificações e outras construções importantes a santos ou figuras religiosas católicas, como forma de pedir proteção espiritual.
Forte de São Marcelo Hoje em Dia
Atualmente, o Forte de São Marcelo, um dos principais símbolos históricos e arquitetônicos de Salvador, encontra-se fechado para o turismo. Apesar de sua importância como patrimônio cultural e sua localização única na Baía de Todos os Santos, o forte está temporariamente indisponível para visitas públicas devido a necessidades de manutenção e conservação.
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