Michelangelo Buonarroti pintou o teto da Capela Sistina entre 1508 e 1512, sob a encomenda do Papa Júlio II. A decisão de Júlio II em escolher Michelangelo, conhecido principalmente por seu trabalho como escultor, foi inicialmente vista com surpresa, já que o artista não se destacava como pintor muralista.
O projeto original envolvia a pintura dos doze apóstolos, mas Michelangelo ampliou significativamente o escopo da obra. Ele transformou o teto da capela em uma grandiosa representação de cenas do Antigo Testamento, com destaque para a criação do homem, a queda de Adão e Eva e o Dilúvio. Essas cenas se conectam tematicamente com a história da salvação e a missão da Igreja, refletindo o interesse de Júlio II em fortalecer a imagem da Igreja em um período de agitação política e religiosa.
Pennacchi – São histórias do Antigo Testamento representadas com foco em eventos milagrosos, que mostram a intervenção divina em favor do povo de Israel.
Sibile e Profeti – A sibilia e os profetas representam a união entre as profecias pagãs e bíblicas, prevendo a chegada de Cristo. As sibilas, antigas profetisas, aparecem ao lado dos profetas do Antigo Testamento, como Isaías, criando uma conexão entre diferentes tradições religiosas.
Storie Centrali – Retrata as histórias do Gênesis em nove painéis centrais, dispostos cronologicamente a partir da parede do altar. Esses painéis narram episódios fundamentais da criação, como a criação do mundo, o pecado original e o dilúvio de Noé.
Vele – Fazem parte da série de retratos dos Antepassados de Cristo. Esses personagens estão dispostos ao longo da parte superior das paredes, nos triângulos e lunetas que circundam o teto da Capela Sistina, navegando pela árvore genealógica de Cristo conforme descrito nos Evangelhos de Mateus e Lucas.
Medaglioni – Os medalhões da Capela Sistina decoram os espaços entre os Ignudi nos painéis menores que ilustram as Histórias do Gênesis na abóbada. Esses medalhões apresentam cenas bíblicas e temas simbólicos que complementam as narrativas do Gênesis.
Ignudi – Os Ignudi da Capela Sistina são figuras de jovens nus, retratados por Michelangelo no teto da capela, servindo como elementos decorativos. Eles aparecem em pares ao redor dos painéis que contêm as cenas principais das Histórias do Gênesis, em posições variadas.
1 – Eleazar e Matthan
Representa a genealogia de Jesus conforme descrita no Evangelho de Mateus. Eleazar e Matthan são antecessores de José, o pai terreno de Jesus.
Eleazar, identificado como o jovem à direita, é retratado em uma pose pensativa, com a perna direita cruzada. Ele usa uma camisa branca com detalhes verdes e uma capa vermelha solta sobre o ombro.
Mattan é retratado à esquerda, observando sua esposa, que brinca com o filho Jacó.
2 – Jacó e José
À esquerda, Jacó é representado como um homem de barba branca e manto alaranjado, parece pensativo. Ao seu lado, uma figura mais jovem usa um turbante. À direita, uma mulher de manto roxo e azul segura uma criança no colo, enquanto um homem ao lado dela também segura uma criança.
3 – Azor e Sadoc
À esquerda, uma mulher está sentada, usando vestes rosadas e alaranjadas. Ela parece interagir calmamente com uma criança, que se aproxima dela com um gesto tímido.
À direita, um homem está sentado em uma postura introspectiva. Ele veste um manto alaranjado que envolve seu corpo, com uma expressão de reflexão. Ele parece alheio à interação à sua esquerda, envolvido em seus próprios pensamentos.
4 – Judite e Holofernes
Retrata o episódio do Livro de Judite (capítulos 8 a 16), em que a heroína judia, Judite, salva seu povo ao decapitar Holofernes, general do exército assírio que cercava a cidade de Betúlia.
Na pintura, Judite é mostrada no momento decisivo após a decapitação de Holofernes. Ela segura a cabeça decepada do general com firmeza, enquanto sua serva, que está ao seu lado, ajuda a envolver o troféu mortal em um pano. O corpo de Holofernes está parcialmente visível, já caído na cama onde ocorreu o assassinato.
5 – Zacarias
Ele foi um profeta que anunciou o retorno dos judeus do exílio e a restauração do Templo.
O Profeta Zacarias aparece sentado em uma cadeira, com um grande livro em mãos. Ele é retratado como um homem mais velho, com uma longa barba grisalha, usando roupas volumosas. Zacarias está imerso na leitura, o que simboliza sua sabedoria.
6 – Davi e Golias
A cena de Davi e Golias no teto da Capela Sistina retrata o famoso episódio bíblico em que o jovem Davi derrota o gigante Golias, narrado em 1 Samuel 17.
A composição mostra Davi no momento crucial da vitória, logo após ele ter abatido Golias com uma pedra atirada de sua funda. Davi é visto em posição de domínio, segurando a enorme espada do gigante. Golias, caído no chão, é retratado em uma postura vulnerável, enquanto Davi está prestes a decapitá-lo, completando a vitória que trará grande glória a Israel.
7 – Achim e Eliud
À esquerda, um homem mais velho, com barba e cabelos brancos, está envolto em um manto laranja e repousa sob os braços. Sua expressão séria e seu olhar distante sugerem uma postura reflexiva.
À direita, uma mulher está sentada e segura uma criança com uma das mãos. Ela parece prestar atenção a criança, que está parcialmente voltado para ela. Suas vestes são de cores suaves, com uma mistura de tons pastéis.
8 – Sibila Délfica
É uma figura central na mitologia greco-romana e na tradição cristã, conhecida por suas profecias sobre a vinda do Messias. A Sibila de Delfos, ligada ao famoso oráculo de Delfos na Grécia, era uma profetisa que comunicava as palavras do deus Apolo. Na interpretação cristã, ela é vista como uma figura que, assim como os profetas do Antigo Testamento, previu a chegada de Cristo.
9 – A Embriaguez de Noé
Ela retrata um episódio do Gênesis 9:20-23, que ocorre após o dilúvio, quando Noé planta uma vinha, faz vinho e acaba se embriagando, levando a uma situação de vergonha e conflito familiar.
Na cena, Noé é representado deitado no chão, nu e embriagado. Sua figura está sentada em uma posição vulnerável, evidenciando seu estado de embriaguez após consumir vinho. Ao redor dele, seus filhos, Sem, Cam e Jafé, estão presentes, reagindo de maneiras distintas.
Do ponto de vista simbólico, essa cena pode ser interpretada como uma reflexão sobre a fragilidade da condição humana, mesmo entre os justos. Após a grande catástrofe do dilúvio, que foi um ato de purificação do mundo, a embriaguez de Noé lembra que o pecado e a fraqueza moral continuam presentes na humanidade.
10 – Joel
Joel é um profeta menor na tradição bíblica, conhecido principalmente por suas visões sobre o “Dia do Senhor” e o julgamento divino, bem como pelas promessas de restauração e bênçãos futuras para o povo de Israel. O Livro de Joel foca nas consequências do pecado, a necessidade de arrependimento e a promessa de renovação espiritual.
Joel está sentado com um grande pergaminho nas mãos, estudando-o. Sua expressão é calma e introspectiva.
11 – Josias, Jeconias e Salatiel
Josias, Jeconias e Salatiel são figuras bíblicas mencionadas na genealogia de Jesus. Josias foi um rei de Judá conhecido por suas reformas religiosas. Jeconias, seu neto, foi o último rei de Judá antes do exílio na Babilônia. Salatiel, filho de Jeconias, é um dos antepassados de Jesus, mencionado no Evangelho de Mateus.
Duas figuras humanas estão sentadas em lados opostos, cada uma delas segurando uma criança que estendem o braço uma em direção a outra.
12 – Navegando sobre Josias, Jeconias e Salatiel
A cena mostra um casal reclinado dentro de um espaço triangular, em poses tranquilas e íntimas, sugerindo uma cena doméstica e familiar. A mulher, com um véu branco, está sentada e estende os braços em direção à criança, que está no centro, sendo apoiada por ela. O homem, com roupas em tons de amarelo e branco, está recostado com uma expressão reflexiva.
13 – O Dilúvio
Ela representa o episódio bíblico do dilúvio universal, descrito em Gênesis 7-8, quando Deus decide purificar o mundo por meio de um dilúvio que destrói toda a vida, exceto Noé, sua família e os animais que ele leva na arca.
Na composição, Michelangelo retrata a devastação causada pelas chuvas torrenciais e a luta desesperada das pessoas para sobreviver à inundação. A cena está dividida em várias seções, cada uma mostrando diferentes grupos de pessoas tentando escapar da morte iminente. No centro da obra, uma multidão de figuras escala uma elevação rochosa, buscando refúgio das águas que subiram. Algumas pessoas tentam ajudar seus entes queridos, enquanto outras carregam seus filhos nas costas.
À esquerda da composição, mostra um barco virado, com pessoas tentando desesperadamente se salvar. Outros nadam em direção a uma pequena ilha onde uma árvore oferece um último ponto de refúgio.
14 – Navegando sobre Zorobabel, Abiud e Eliaquim
Nela, três figuras humanas estão dispostas em um espaço triangular. No primeiro plano, uma mulher está inclinada, segurando uma criança em seu colo com delicadeza. A criança está deitada, com o corpo nu voltado para frente, em uma pose relaxada, enfatizando a intimidade e a ligação maternal. Ao fundo, duas figuras masculinas estão sentadas de forma tranquila, uma delas com o corpo envolto em um manto vermelho, observando a cena de perto.
15 – Zorobabel, Abiud e Eliaquim
A cena da pintura apresenta duas figuras adultas e duas crianças sentadas em lados opostos de uma luneta.
16 – Isaias
Isaías é uma figura central nas escrituras judaico-cristãs, conhecido por suas profecias sobre a vinda do Messias, a salvação do povo de Israel e o futuro do Reino de Deus. Seu livro é um dos mais importantes no Antigo Testamento, e ele é frequentemente considerado o “profeta messiânico” por suas previsões sobre Cristo.
Na pintura, Isaías é retratado como uma figura sentada, com o corpo inclinado levemente para a frente e o braço direito descansando sobre um grande livro, símbolo das suas profecias. Isaías segura o livro com firmeza. Ele parece estar olhando para o lado, como se estivesse prestes a ouvir ou responder a um anjo.
17 – O Sacrifício de Noé
Esta obra específica representa o momento após o dilúvio, em que Noé oferece um sacrifício a Deus em gratidão por ter salvo sua família e a fauna mundial, conforme descrito em Gênesis 8:20-21.
Após o dilúvio, quando as águas recuam e a arca de Noé repousa no Monte Ararat, Noé constrói um altar e realiza um sacrifício de ação de graças a Deus. Neste painel, Michelangelo retrata Noé e outras figuras reunidas em torno do altar, onde o sacrifício está prestes a ser realizado.
Os ajudantes de Noé aparecem ao redor dele, preparando o altar e os animais para o sacrifício. As vestimentas e as posturas das figuras indicam a solenidade do momento.
O sacrifício de Noé é importante porque simboliza a renovação do pacto entre Deus e a humanidade. Após o sacrifício, Deus promete nunca mais destruir a Terra com um dilúvio e estabelece o arco-íris como sinal dessa aliança.
18 – Sibila Eritréia
É uma figura associada à Eritreia, na região da Ásia Menor, e, como as demais sibilas, era tida como uma profetisa que, na tradição cristã, teria previsto a vinda do Messias. A Sibila Eritréia, em particular, é conhecida por sua conexão com oráculos que, segundo a crença, falavam sobre o juízo final e a redenção futura.
Ela é mostrada sentada, com o corpo ligeiramente inclinado para a frente, segurando um grande livro em um momento de leitura.
19 – Ezequias, Manassés e Amon
A cena apresenta uma mãe à esquerda segurando um bebê, com outro deitado em um berço ao lado, envolta em mantos coloridos. À direita, um homem está curvado, com a cabeça baixa. Ao centro, uma placa exibe os nomes “Ezequias, Manassés, Amom”, destacando a genealogia.
20 – Navegando sobre Ezequias, Manassés e Amon
A pintura mostra uma mulher reclinada, envolta em um manto verde, uma bebê segura a barba de um homem idoso ao fundo.
21 – O Pecado Original
Também chamada de “A Queda do Homem e a Expulsão do Paraíso”, ela representa o episódio bíblico do pecado original descrito em Gênesis 3, quando Adão e Eva desobedecem a Deus ao comerem o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, o que resulta na queda da humanidade e sua expulsão do Jardim do Éden.
Essa cena é dividida em duas partes dentro de uma única composição. No lado esquerdo, Michelangelo retrata o momento da tentação. Eva, sob a árvore do conhecimento, pega o fruto oferecido por uma serpente que se enrola em volta do tronco. Curiosamente, a serpente é representada com a parte superior do corpo como uma figura feminina. Adão está ao lado de Eva, estendendo a mão para pegar o fruto, indicando que ele também participa do ato de desobediência.
No lado direito da composição, vemos a consequência imediata: a expulsão do Jardim do Éden. Um anjo, empunhando uma espada flamejante, expulsa Adão e Eva do paraíso. As expressões de ambos são de desespero e arrependimento, com seus corpos curvados em angústia. Eva cobre o corpo com as mãos em um gesto de vergonha, enquanto Adão parece tentar esconder o rosto, expressando a gravidade do pecado e a dor da perda da inocência.
22 – Navegando sobre Osias, Joatão e Acaz
A pintura mostra uma mulher inclinada com uma criança, enquanto um homem ao lado, também com uma criança olha diretamente para o observador.
23 – Osias, Joatão e Acaz
Osias, ou Uzias, foi o décimo rei de Judá, governando por cerca de 52 anos no século VIII a.C. Seu reinado é lembrado por prosperidade militar e econômica, mas ele foi castigado com lepra após desobedecer a Deus ao tentar realizar funções sacerdotais no templo.
Na pintura, à esquerda, um homem representando Uzias está sentado, olhando para o lado. À direita, a mãe está sentada com duas crianças. Ao centro, o nome de Osias é destacado junto aos de Jotão e Acaz. Jotão foi o 11º rei de Judá, conhecido por seu governo justo e por continuar as reformas religiosas de seu pai, Uzias. Acaz, seu filho e sucessor, foi o 12º rei de Judá.
24 – Sibila Cumana
A Sibila Cumana, em particular, era associada à região de Cumas, no sul da Itália, e era a mais antiga e venerada das sibilas. Seu oráculo era famoso, e ela aparece na tradição cristã como uma das figuras que anteviram a chegada do Messias.
É retratada como uma figura robusta e imponente, destacando-se por sua força física e presença marcante. Sentada e segurando um enorme livro de profecias, ela está em um ato de leitura ou estudo. Sua postura é firme, mas não estática; ela parece estar em pleno movimento, virando a cabeça e o corpo enquanto folheia o grande volume.
Michelangelo a pinta como uma mulher mais velha, com feições fortes e determinadas. Sua expressão é de concentração e sabedoria profunda, refletindo a seriedade de suas visões e a importância de suas revelações. O envelhecimento em seu rosto também simboliza sua autoridade e experiência como profetisa, alguém que carrega o peso de séculos de sabedoria.
25 – A Criação de Eva
Este painel retrata o momento bíblico descrito em Gênesis 2:21-22, quando Deus cria Eva a partir de uma costela de Adão, enquanto ele está adormecido. Eva, a primeira mulher, é criada como companheira de Adão e desempenha um papel fundamental no relato da criação.
Na pintura, Adão é mostrado deitado no chão, como se estivesse em um sono profundo, enquanto Eva surge ao seu lado. Ela está de pé em uma postura reverente, com as mãos juntas em oração voltadas para Deus. A figura de Eva parece quase “sair diretamente” de Adão, reforçando a ideia de que foi criada para ser sua companheira. Deus estende sua mão direita em direção a Eva para abençoá-la.
A atitude de Eva sugere que ela é plenamente consciente da bênção divina e da missão que lhe foi conferida.
26 – Ezequiel
Ezequiel é uma figura proeminente nas escrituras judaico-cristãs, conhecido por suas visões apocalípticas e profecias sobre o exílio do povo de Israel e sua eventual redenção. O Livro de Ezequiel contém visões poderosas, incluindo a famosa visão dos “ossos secos” que voltam à vida, simbolizando a restauração de Israel.
Ele está sentado, com o corpo torcido, como se estivesse virando para olhar para trás. A posição ativa de Ezequiel transmite a intensidade e a urgência de suas visões proféticas. Ele segura um pergaminho, símbolo das profecias divinas, e parece estar envolvido em uma comunicação direta com Deus ou em um momento de revelação.
O rosto de Ezequiel é marcado por uma expressão séria e atenta, refletindo a responsabilidade de carregar mensagens importantes e muitas vezes difíceis. Ele aparece concentrado, pronto para entregar as visões que recebeu, o que mostra sua missão de advertir Israel sobre a necessidade de arrependimento e o julgamento que estava por vir, além das promessas de restauração futura.
27 – Asa, Josafá e Jorão
Asa foi o terceiro rei de Judá, mencionado na Bíblia, que reinou por 41 anos. Ele é elogiado nas Escrituras por promover reformas religiosas, removendo ídolos e incentivando a adoração ao Deus de Israel. Asa também fortaleceu as defesas de Judá e teve sucesso militar contra inimigos como os etíopes e os egípcios.
A pintura mostra duas figuras: à esquerda, Asa envolvido em um ato de escrita, enquanto à direita, representa sua mãe. No centro, uma placa contém os nomes “Asa,” “Josaphat,” e “Joram,” que aparecem na Bíblia como antecessores de Jesus. Esses afrescos são uma representação da conexão entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento, simbolizando a descendência de Cristo a partir de reis como Asa.
28 – Navegando sobre Asa, Josafá e Jorão
A pintura mostra uma mulher em posição reclinada, vestida em tons de vermelho e verde, com um pano branco aos pés. Ao fundo, duas figuras menores estão parcialmente visíveis.
29 – A Criação de Adão
Na cena, Adão está deitado à esquerda, com a mão estendida em direção a Deus. À direita, Deus, rodeado por anjos, estende seu braço para Adão, quase tocando sua mão, simbolizando a iminente transmissão da vida.
A figura feminina sob o braço de Deus seria Eva, que ainda não foi criada, mas que é prefigurada como parte do plano divino para a humanidade.
Representa o momento bíblico em que Deus dá vida a Adão, o primeiro homem, conforme descrito em Gênesis 1:26-27. Este painel captura o instante em que a divindade infunde a alma humana em Adão, e é amplamente reconhecido como uma das maiores expressões artísticas do Renascimento.
O pintura de Deus e Adão é um dos momentos mais simbólicos da arte ocidental, interpretado como a representação do relacionamento íntimo entre Criador e criação. A cena também reflete a centralidade do ser humano como a criação máxima de Deus, feita à sua imagem e semelhança.
30 – Navegando sobre Roboão e Abias
A pintura mostra uma mulher sentada, com o rosto apoiado na mão em uma pose introspectiva, ao lado de uma criança que está encostada em suas pernas. A figura veste roupas em tons de rosa e dourado, com detalhes suaves de luz e sombra.
31 – Roboão e Abias
A pintura de Roboão com sua mãe, feita por Michelangelo no teto da Capela Sistina, é uma das muitas representações da árvore genealógica de Cristo, um tema central na obra. Roboão, que foi o filho do rei Salomão e pai de Abias, embora tenha governado por um curto período, Abias foi lembrado por defender o reino de Judá contra os ataques do Reino de Israel, mantendo firme sua lealdade à linhagem davídica e às tradições estabelecidas por seu avô Salomão.
32 – Daniel
Daniel, conhecido por suas visões proféticas e por ter interpretado sonhos e visões de reis, é uma figura central na tradição judaico-cristã, e sua história está relatada no Livro de Daniel. Ele é especialmente lembrado por sua coragem e fé inabalável em Deus, que o livrou da cova dos leões.
Daniel parece estar em meio a um processo de ação, analisando ou escrevendo suas visões. O corpo do profeta está ligeiramente inclinado, e ele olha com intensidade para o texto à sua frente. Seu rosto expressa concentração.
33 – Separando as Águas da Terra
Conforme descrito em Gênesis 1:9-10, nesta passagem, Deus separa as águas para revelar a terra seca, estabelecendo o ambiente onde a vida será posteriormente criada.
Deus é representado com os braços estendidos em direções opostas, simbolizando a separação das águas e da terra.
34 – Sibila Persa
Associada à antiga Pérsia (atual Irã), representa sabedoria e clarividência, e sua inclusão simboliza a universalidade da mensagem cristã, abrangendo culturas além do mundo greco-romano e judaico.
Na pintura, a Sibila Persa está sentada, segurando um grande livro de profecias. Sua cabeça está inclinada para frente, enquanto ela examina o texto com cuidado e concentração.
35 – Jessé, Davi e Salomão
Jessé é uma figura bíblica mencionada no Antigo Testamento, conhecido por ser o pai do rei Davi, de quem descende a linhagem de Jesus Cristo. Ele é frequentemente citado como o patriarca de uma família real e simbólica na genealogia de Cristo, representando a raiz da “Árvore de Jessé” na tradição cristã.
No centro da pintura, há um painel inscrito com os nomes “IESSE,” “DAVID,” e “SALOMON,” indicando a linhagem de Jessé (pai de Davi), Davi (rei de Israel), e Salomão (filho de Davi).
A esquerda o rei Davi é representado como um homem de idade, com barba, usando uma túnica verde com uma criança ao lado.
36 – Navegando sobre Jessé, David e Salomão
Em primeiro plano a mãe de Jessé com expressão melancólica, apoia o rosto na mão, vestindo uma túnica fluida em tons suaves. Atrás dela, surgem duas outras figuras sombreadas, parcialmente ocultas.
37 – A Criação do Sol e da Lua
Descrito em Gênesis 1:14-19, nessa passagem, Deus cria os corpos celestes — o Sol para governar o dia, a Lua para governar a noite, e as estrelas — marcando o quarto dia da criação.
Michelangelo escolheu representar esse momento dividindo a composição em dois eventos simultâneos. No lado esquerdo da pintura, vemos Deus estendendo a mão direita em direção ao Sol, simbolizando sua criação. Na mão esquerda, ele aponta para a Lua, evidenciando a separação entre os dois astros que dominam o ciclo do dia e da noite.
Em uma segunda cena, à direita, Deus é retratado de costas, voando em direção ao infinito, o que simboliza a continuidade de sua obra de criação.
38 – Navegando sobre Salmão, Boaz e Obede
Na Bíblia, Salomão é o filho de Davi e Betsabé, e sua história é marcada pela sabedoria que ele recebeu de Deus e pelo seu papel na construção do Templo de Jerusalém. Betsabé, a mãe de Salomão, desempenhou um papel crucial na garantia de que ele ascendesse ao trono de Israel. Em 1 Reis 1, ela intercede junto ao rei Davi para assegurar que Salomão seja o herdeiro legítimo.
Salomão é representado como um jovem apoiado na perna de sua mãe e sua postura é relaxada. Ao seu lado, Betsabé está sentada, com uma aparência maternal e serena. Sua expressão, embora calma, parece carregar um senso de sabedoria, refletindo o papel crucial que desempenhou na vida de Salomão, garantindo seu direito ao trono de Israel.
39 – Salomão, Boaz e Obede
Apresenta um painel central com os nomes “Salmon, Booz, Obeth”, referenciando a genealogia bíblica. À esquerda, uma figura feminina está ajoelhada e segura carinhosamente um bebê, envolta em roupas fluidas em tons de rosa e verde. À direita, um homem barbudo e idoso, com expressão séria, está sentado segurando um cajado.
40 – Sibila Líbia
As sibilas eram figuras da mitologia greco-romana, mulheres dotadas do dom da profecia, que, na tradição cristã, foram incorporadas como profetisas que previram a vinda de Cristo. A Sibila Líbia, em particular, é associada ao norte da África e é famosa por suas previsões sobre o futuro.
Sibila Líbia é uma figura notavelmente graciosa e ao mesmo tempo poderosa. Ela é retratada em um momento de movimento, enquanto se vira para pegar ou folhear um grande livro de profecias que está posicionado acima de sua cabeça. Essa ação sugere sua função como uma guardiã de conhecimento e sabedoria. A cena captura o instante em que ela parece pronta para ler ou transmitir uma de suas profecias.
41 – Deus Separando a Luz da Escuridão
Ela está localizada no painel mais próximo do altar e representa o primeiro ato da criação, conforme descrito em Gênesis 1:1-5. Nesse trecho bíblico, Deus cria o céu e a terra e, em seguida, separa a luz da escuridão, dando início ao ciclo do dia e da noite.
A imagem mostra Deus separando a luz da escuridão, inspirado na cena bíblica da criação. No centro, Deus ergue as mãos, simbolizando o ato de dividir luz e trevas
42 – Jeremias
Jeremias é retratado em uma pose melancólica e introspectiva, é uma das figuras mais expressivas entre os profetas que adornam a abóbada da capela. Sua história é encontrada no Livro de Jeremias, onde ele é conhecido como o “profeta da destruição” por suas lamentações sobre a queda de Jerusalém e a destruição do Templo, eventos que ele previu devido à desobediência do povo de Israel.
Na pintura, Jeremias é mostrado sentado, com a cabeça apoiada na mão em um gesto de profunda reflexão e tristeza. Seu corpo está ligeiramente inclinado para frente, em uma postura que transmite cansaço e angústia, refletindo sua dor pelas visões de calamidade que anunciou. Sua expressão facial reforça essa sensação de desespero silencioso, como alguém que carrega o peso das tragédias que testemunhou e das mensagens difíceis que foi encarregado de entregar.
43 – Naasson
Naasson foi uma figura bíblica do Antigo Testamento, mencionado no livro de Números como filho de Aminadabe e chefe da tribo de Judá durante a jornada dos israelitas no deserto. Ele é também um ancestral direto de Jesus Cristo, aparecendo na genealogia descrita nos Evangelhos, como mencionado em Mateus 1:4 e Lucas 3:32.
De cada lado do painel, há duas figuras em poses reflexivas. À esquerda, uma mulher se inclina levemente, segurando um espelho. Ela está vestida com roupas em tons de verde e vermelho, que se destacam contra o fundo suave. À direita, um jovem de cabelos cacheados, vestido com uma túnica vermelha e azul, está sentado lendo um livro.
44 – Moises e a Serpente de Bronze
Esta cena é baseada em um episódio bíblico do Livro de Números 21:4-9, que narra o momento em que Deus envia serpentes venenosas para punir os israelitas por sua falta de fé e constantes reclamações durante a travessia pelo deserto, após a libertação do Egito. Para salvar o povo, Deus ordena a Moisés que faça uma serpente de bronze e a coloque em um poste. Aqueles que olhassem para a serpente seriam curados das mordidas venenosas.
Na composição, o drama da cena está centrado nas figuras dos israelitas, que aparecem sofrendo devido às picadas das serpentes. Eles se contorcem em agonia, tentando se proteger ou já enfraquecidos pelo veneno.
Em contraste, no plano superior, a figura de Moisés ergue a serpente de bronze, obedecendo às ordens divinas para salvar os israelitas. Aqueles que olham para a serpente com fé começam a se recuperar, simbolizando o poder da cura divina e a importância da obediência e confiança em Deus. O ato de Moisés não só demonstra seu papel como líder e intercessor do povo, mas também a misericórdia de Deus, que oferece um meio de redenção mesmo após a punição.
45 – Jonas
Jonas é uma figura importante no Antigo Testamento, conhecido pela história em que é engolido por um grande peixe ou baleia e depois cuspido em terra firme, após ter fugido da missão dada por Deus. A história de Jonas é encontrada no Livro de Jonas, onde ele é chamado a pregar arrependimento à cidade de Nínive.
Ele é retratado sentado de maneira incomum, com o corpo torcido e olhando para cima. Essa postura dinâmica é uma das mais complexas e ousadas no teto, com a figura de Jonas quase que desafia a gravidade, destacando a habilidade de Michelangelo em lidar com a anatomia humana em diferentes ângulos.
Jonas é representado com uma expressão de preocupação, refletindo sua relutância inicial em seguir o comando de Deus e sua posterior aceitação do dever profético. Sua figura transmite tanto tensão física quanto emocional, um reflexo da luta interna do profeta entre sua vontade pessoal e a missão divina.
Um dos detalhes notáveis da composição é a presença de um grande peixe atrás de Jonas, referenciando a parte mais famosa de sua história. A inclusão do peixe faz alusão ao tempo que Jonas passou no ventre da criatura, simbolizando sua morte figurativa e subsequente renascimento.
46 – Punição de Amã
Essa cena não está diretamente relacionada ao ciclo da criação no Gênesis, mas sim à história do Antigo Testamento, especificamente o Livro de Ester, capítulos 3 a 7.
Amã era um oficial persa da corte do rei Assuero (geralmente identificado como Xerxes I), que tramou um complô para exterminar os judeus no Império Persa. No entanto, seus planos foram frustrados por Ester, a rainha judia, e por Mardoqueu (ou Mordecai), o tio de Ester, que desvendou as intenções maliciosas de Amã. Como resultado, o rei condena Amã à morte, e ele é enforcado na própria forca que havia preparado para Mardoqueu.
47 – Aminadabe
Apresenta o nome “Aminadab” no painel central, destacando a genealogia bíblica. À esquerda, um homem sentado com postura ereta veste uma túnica de tons claros e vermelhos, exibindo uma expressão séria e introspectiva, como se estivesse em reflexão. À direita, uma mulher está curvada, em uma posição mais fechada e melancólica, penteando os cabelos.
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